Na
minha rua
Quando eu era pequeno, na minha rua, a Travessa da Fé, ali
em Peniche de Cima em frente à muralha, a vida fervilhava, pela manhã as
crianças iam para a escola da Maria Mechas, aliás até ir para a escola
primária, todos ali andávamos a aprender. No tempo da praia, logo pela manhã,
levávamos pão quente por vezes com açúcar e azeite acabado de fazer na padaria
do Ti Carlos Padeiro e da Ti Irene, o carro do Sr. Petinga era abastecido de tabaco para
partir para distribuição, mais abaixo havia o curral do macho do Ti Carlos, no
outro lado da rua a “menina” Sabina já havia saído para abrir a loja, os
Borralhos viviam em frente a nossa casa, o Belmiro, o Carlos, o Joaquim e a
Argentina, o Ti Joaquim Alves “Borralho” com a sua calma e altura, metia
respeito, uma pessoa sempre educada, havia ainda a Lola e o Ti Pedro ao lado da
minha casa, por baixo num grande rés-do-chão, o meu padrinho Jesuíno e a tia
Conceição, ainda a prima São, pelo meio-dia a minha mãe ia à muralha chamar-me
para o almoço, era a interrupção dos banhos e da vida da praia, que logo era
retomada rapidamente, ainda a tempo de ficarmos a tomar conta eu o Zé Batista e
outros, das lanchas dos homens que tinham vindo da pesca da Lula e iriam
novamente para a faina, normalmente ficávamos com a do Ti Taitai, à tarde havia
tempo para ouvir o Ti Vergílio e a sua corneta a anunciar os Sorvetes ou “Xirivetes”
como nós os chamávamos. À noite, eram as brincadeiras de verão se era o caso, o
jogo da mosca, entre outros, ir aos Besouros fora do portão. Dia sim, dia não
ainda tinha de encher as bilhas de água na bica de Peniche de Cima e coloca-las
no aparador. Em frente à nossa casa ainda havia a Lurdes e a sua filha Silvina
e o marido, o Silvino Licotes, a rua do meu lado e a seguir ao curral morava a
Ti Juvita e o Ti Amadeu que tinha lugar cativo no mesmo sitio da muralha para
pescar, depois acabava na taberna da Tia Aida, antigamente como taberna do
Churrilha, no outro lado o Ti Zé do Carmo e a Ti Leopoldina finalizavam a
Travessa da Fé. Na minha casa o meu pai estaria a dormir à espera que o velho
terra lhe viesse dar ordens para ir para o mar e a minha mãe fazia renda na
sala de fora, com a minha avó Adelina e a minha Tia Violeta que morava ao nosso
lado com o meu primo Francisco António e o Tio Afonso.
Era assim a minha rua naquele tempo.
4 comentários:
Obrigado Francisco por este regresso ao saudoso passado com que tanto também me identifico.
E a sensação desta memória não é apenas de vizinhança ou amizade, mas são laços e recordações de uma unida e vasta família que ali coexistiu.
Do "parente" da Travessa da Luz,
Jorge Paulino
Uma rua fervilhante de vida que hoje parece deserta.
Um abraço e bom Domingo
Ola Chico, talvez te lembras que por cima do meu avo (Ze do Carmo)rua da boa viagem janela voltada para a Muralha morava o meu tio Armenio (maravilhas)e a milha tia Celeste e do lado da menina sabina onde ainda e´a porta, janela voltada para a travessa da fe moravam nos o meu pai Jose Alcantara milha mae a Preciosa e o meu irmao Ze ate´1969 . Um grande abraco e desculpa o meu português ja sao 42 anos que estou aqui.
Obrigrado amigo Jorge, "parente" da Trav. da Luz. Vitor, claro que me lembro do teu pai e da tua mãe morarem por cima do teu avô Zé do Carmo, e da tua mãe Preciosa e devocês os dois irmãos, e do Arménio e da Celeste, mas com a voragem da escrita por vezes não vem à ideia todos, não é por mal, o Arménio estou muita vez com ele e a Celeste também vejo de vez em quando.
Grande abraço.
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