A "Guerra das Espoletas" foi há 80 anos!
"A população de Peniche, fez um levantamento popular, pelo direito ao trabalho,
contra a fome e a miséria!
No
dia 13 de novembro de 1935, faz agora 80 anos, a denominada localmente “Guerra
das Espoletas”, levantamento popular, com o seu zénite no dia 13 citado, foi
mais um dos episódios de resistência ao fascismo, que o aparelho repressivo do
regime tentou abafar e que provavelmente teria caído no esquecimento , não
fossem os testemunhos de alguns locais como Carlos Leiria, José António Paiva
(“Zé Filipe”) e Luís Correia Peixoto (já falecidos), José Rosa ou João Manuel Neves.
Nesses tempos idos a sardinha era apanhada com farelo para a trazer à tona de
água, e explosivos que a matavam ou atordoavam. Por causa deste processo
ocorreram ferimentos graves e às vezes mesmo mortes. Na sequência da morte de
um pescador, as autoridades decidiram (só depois da morte de mais um) proibir
esta forma de apanhar peixe, sem nunca apresentarem alternativa. Segundo os
relatos da época por força de um feroz dispositivo militar foram presos e
condenados os mestres (cerca de 60), os armadores sujeitos a multas
pesadíssimas e os barcos apreendidos.. A prisão dos mestres e a proibição da
pesca durante um ano, representavam a fome e a miséria para mais de 3000
pessoas e respectivas famílias, que ficariam sem sustento. Os mestres eram na
altura como são hoje pessoas da confiança dos pescadores.
Quando na Vila de Peniche se soube da notícia, os sinos começaram a tocar a
rebate, chamando a população à rua. A decisão de transferir os mestres para
Caldas da Rainha, foi o motivo, para que a maioria da população invadisse os
carros destinados ao transporte, na tentativa de impedir a transferência. A
massa humana segue para o Portão de Peniche de Cima, e pegando como se fosse
papel numa traineira ainda incompleta e outros materiais, barra a estrada,
cortando o trânsito. Na zona da Prageira foi derrubado o poste telefónico e
cortados os fios. A comunicação de pedido de reforços passa por um triz. A GNR
ainda tenta restabelecer as comunicações, mas face à resistência popular esta
força militar dispara, é morto o pescador Francisco Sousa e outros dois são
feridos, sendo posteriormente reforçada pela GNR de Caldas da Rainha. A vila de
Peniche após estes acontecimentos foi invadida por forças militares e outras
forças da repressão (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, antecessora da
PIDE), sendo decretado o “estado de sítio”.
Nos dias posteriores realizaram-se dezenas de prisões, sendo que o regime foi
obrigado, pela força dos acontecimentos, a libertar os mestres e outros detidos
(aministiados). Foi também com esta jornada de resistência que se conseguiu que
uma reivindicação antiga fosse realizada: a construção de um dos molhes de
proteção.
O dia 13 de Novembro ficou marcado, como em muitas zonas do país, durante os 48
anos de Fascismo, pela luta pelo Direito ao Trabalho e por melhores condições
laborais."
Texto da U.R.A.P..
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