30/07/2016

Ainda acerca da"praia dos cães"

Do Professor Francisco Felix e com a devida vénia:


Ouvi comentar a notícia na praia, mas sinceramente julguei tratar-se de uma brincadeira. Aproveito esta Plataforma de Liberdade para refletir sobre o assunto em causa e também para colocar algumas questões e/ou dúvidas decorrentes da situação evidenciada. Como é óbvio, as considerações apontadas são da exclusiva responsabilidade do autor destas linhas. Apesar de não ter cães, e como não poderia deixar de ser, respeito na íntegra quem tem por companhia estes animais. Já não posso concordar, quando, por incúria dos donos, os dejetos não são recolhidos e permanecem nos passeios, colocando-se questões de saúde pública e de higiene. Passo então a referir os aspetos subjacentes ao propósito da temática:
- Não encontro nenhuma explicação plausível para a criação de um espaço deste tipo. A ideia pode ser original, mas na minha ótica não faz sentido;
- Talvez por ignorância da minha parte, mas nunca ouvi/vi qualquer debate sobre o tema. Também não me lembro de ter visto alusão a este facto nos programas das forças políticas concorrentes aos órgãos autárquicos;

- Qual o critério que presidiu à escolha deste local para se implementar uma praia para cães? Poder-se-ia ter optado pelo Portinho da Areia do Sul, Carreiro de Joanes, Carreiro de S. Marcos ou mesmo o Carreiro do Mosteiro?;
- O Portinho da Areia do Norte viu-se livre de um esgoto, de um ferro-velho e das autocaravanas. Os sistemas marinhos estavam a recuperar e agora introduz-se um novo fator de perturbação;

- Com esta medida estaremos a pensar nos seres que integram as comunidades marinhas e as zonas de interface oceano-meio terrestre? Recorde-se que elegemos o oceano como umas das vias estruturantes do desenvolvimento de Peniche;
- Uma das imagens de marca do Portinho da Areia do Norte é também a presença de mariscadores. Esta atividade tradicional não ficará comprometida? 
- As decisões tomadas enquadram-se no conceito de Berlengas - Reserva da Biosfera? O Portinho da Areia do Norte integra a reserva referida.
- Fiquei surpreendido com a celeridade da criação deste tipo de praia, uma vez que relativamente a outros processos, e bem fundamentados, existem muitos obstáculos.
- Havendo um plano para a zona da Papôa não se compreende uma opção desintegrada do contexto;
- Nas proximidades existem vários e relevantes vestígios históricos. Até que ponto ficarão em risco? Não estará comprometida a valorização destes recursos não renováveis;
- O Portinho da Areia do Norte reúne condições excecionais no âmbito do Ensino das Ciências da Terra e da Vida que de alguma forma poderão ficar comprometidas. São as inúmeras as atividades pedagógicas que se desenrolam naquele local, desde o Ensino Básico ao Ensino Superior; 
- Continuam a ser feitos estudos de âmbito geológico que valorizam ainda mais o corte geológico da Ponta do Trovão, alvo de classificação por parte da UNESCO;
- Recordo que naquele troço do litoral se definem algumas formações do Jurássico Inferior, formalizadas à escala da Bacia Lusitânica, de acordo com os Guias Internacionais de Nomenclatura Estratigráfica. 
Portinho da Areia do Norte, 8 de setembro de 2014.

1 comentário:

Unknown disse...

Concordo plenamente.