19/02/2013

As Rendas de Peniche

Já abordei aqui a temática das Rendas de Peniche e a importância que teve na minha família, por isso nunca é demais expressar as minhas homenagens às Rendilheiras da nossa terra.

Fui criado num ambiente de grandes restricções, foi assim com a maioria das pessoas, e desde criança via em casa, a minha avó Adelina Rocha Pera, a minha mãe Gertrudes e a minha Tia Violeta, agarradas à almofada da renda de manhã à noite, até o sol da tarde que entrava na casa de fora o permitisse, onde as três mulheres matraqueavam sem cessar os bilros, que eu, que cirandava por ali, ouvia. Neste tempo e segundo a minha mãe, uma “Volta do Limão com Lecrão” era vendida por cerca de 80 escudos (finais dos anos 50 (?)) e era trabalho para mais de 15 dias.

A minha avó, viúva aos 30 anos ficou com quatro filhos para criar a fazer renda de bilros, coitada, trabalho ciclópico, uma renda completa depois de muitos dias de trabalho era vendida por uns míseros patacos, estava-se então nos anos 30 do século passado. Mais tarde quando eu era miúdo, já percebia a importância daqueles trabalhos na economia da casa, apesar de pouco, era um precioso auxiliar e complemento do pequeno rendimento de pesca que entrava em casa.

Um dos trabalhos que eu tinha quando era miúdo, aí com uns onze anos, já andava na Escola Industrial, era fazer os desenho dos “piques”, a minha avó, dava-me o pique novo já furado e eu pelo velho, fazia os desenhos a tinta da china, era a minha contribuição.

Por isso, quando vejo o trabalho da Câmara Municipal de Peniche a valorizar a renda de Peniche, é não só uma defesa do nosso património cultural, como uma homenagem a todas as Rendilheiras, as que trabalhavam arduamente de manhã à noite para sustento da casa e nelas vejo sempre a minha avó, a minha mãe e a minha tia, naquela casa transformada em oficina.

Felicito por isso a Câmara pelo início dos trabalhos da criação do novo Museu das Rendilheiras, mesmo em tempo de crise, também por isso, se não houver dinheiro para a cultura de um povo, para a preservação do seu património cultural, então nada vale a pena.


Já abordei aqui a temática das Rendas de Peniche e a importância que teve na minha família, por isso nunca é demais expressar as minhas homenagens às Rendilheiras da nossa terra.

Fui criado num ambiente de grandes restricções, foi assim com a maioria das pessoas, e desde criança via em casa, a minha avó Adelina Rocha Pera, a minha mãe Gertrudes e a minha Tia Violeta, agarradas à almofada da renda de manhã à noite, até o sol da tarde que entrava na casa de fora o permitisse, onde as três mulheres matraqueavam sem cessar os bilros, que eu, que cirandava por ali, ouvia. Neste tempo e segundo a minha mãe, uma “Volta do Limão com Lecrão” era vendida por cerca de 80 escudos (finais dos anos 50 (?)) e era trabalho para mais de 15 dias.

A minha avó, viúva aos 30 anos ficou com quatro filhos para criar a fazer renda de bilros, coitada, trabalho ciclópico, uma renda completa depois de muitos dias de trabalho era vendida por uns míseros patacos, estava-se então nos anos 30 do século passado. Mais tarde quando eu era miúdo, já percebia a importância daqueles trabalhos na economia da casa, apesar de pouco, era um precioso auxiliar e complemento do pequeno rendimento de pesca que entrava em casa.

Um dos trabalhos que eu tinha quando era miúdo, aí com uns onze anos, já andava na Escola Industrial, era fazer os desenho dos “piques”, a minha avó, dava-me o pique novo já furado e eu pelo velho, fazia os desenhos a tinta da china, era a minha contribuição.

Por isso, quando vejo o trabalho da Câmara Municipal de Peniche a valorizar a renda de Peniche, é não só uma defesa do nosso património cultural, como uma homenagem a todas as Rendilheiras, as que trabalhavam arduamente de manhã à noite para sustento da casa e nelas vejo sempre a minha avó, a minha mãe e a minha tia, naquela casa transformada em oficina.

Felicito por isso a Câmara pelo início dos trabalhos da criação do novo Museu das Rendilheiras, mesmo em tempo de crise, também por isso, se não houver dinheiro para a cultura de um povo, para a preservação do seu património cultural, então nada vale a pena.

Algumas imagens de gerações de Rendilheiras na minha família:

Principio dos anos 50 do século XX – A minha mãe, a avó e a tia

Princípio dos anos 80 do século XX - a minha mãe e a minha filha Andreia a aprender renda com 5 anos

Mais recente, a minha mãe a fazer renda.


Alguns piques:

Para renda do “Limão com Lecrão”, estes são exemplares de velhos piques com muitos anos de trabalho.

Algumas rendas que existem por casa:

Aplicação de “Limão com Lecrão”

Gola para criança

Gola com estrelinhas

Renda de dominó

Quadrados para toalhas de mesa

Almofada com Renda e Bilros.




6 comentários:

Antonio Ângelo disse...

Nostálgico e notável,para quê mais adjetivos!!

Abraço

Luis Santana disse...

Verdadeiras artistas estas Senhoras rendiheias. A minha mae pos muitas vezes pao na mesa, com o dinheiro que ganhava das rendas. Um beijo para a Tia Gertrudes. Abraco

Álvaro Marques disse...

Gostei imenso deste teu texto pois lembro-me perfeitamente de quando em miúdo, ver a minha avô e a minha mãe às voltas com os bilros, tendo ainda algumas rendas como recordação.
Parece que no futuro com a austeridade que nos estão a "impôr" muitas pessoas terão de voltar a esses tempos...
Um abraço

Albino disse...

Claro que nao podia faltar eu que vivi bem de perto durante esses anos dificeis contigo durante a nossa adolescencia,e lembro-me muito bem da tua avo a fazer renda,assim como a tua mae,que pelas fotos ainda continua...o que considero fantastico..tal como o nossos colegas lembro-me da minha avo Leopoldina e minha mae tambem agarradas a almofada,e contribuir para o nosso bem estar,e que embora fosse pouco ajudava...Bela homenagem e uma boa iniciativa..
Abraco Chico e ate breve!

J.Leitão disse...

muito bom!

jacinto borges disse...

Excelente o teu trabalho homenageando as mulheres rendilheiras de Peniche,também tive na minha família pessoas a quem as rendas ajudavam muito no orçamento familiar, raro foram as famílias de Peniche no século passado que não tiveram alguém do sexo feminino trabalhando fazendo rendas para ajudar no orçamento familiar, quase toda a gente vivia do mar, mesmo os que tinham outras profissões sentiam na pele as crises porque Peniche passava. faço minhas as tuas palavras homenageando todas essas heroínas que muitas vezes não dormiam para fazer as rendas conseguindo com esse dinheiro que ganhavam pôr o pão na mesa aos seus filhos. Um abraço.