21/07/2010

Rendas de Bilros de Peniche - Uma pequena história


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Nesta velha fotografia com quase 60 anos vêm-se a minha mãe Maria Gertrudes à esquerda, depois a minha avó, Adelina Rocha Pêra e a minha tia Violeta da Ajuda, de pé a minha madrinha Conceição com a filha ao colo.
A minha avó Adelina, enviuvou muito nova, com 30 anos, ficando com quatro filhos para criar, o mais novo dos quais era o meu pai com 4 anos e cujo único rendimento para matar a fome aos 4 filhos era a Renda de Bilros, foram anos muito duros, de fome, dias passados com um simples pedaço de pão, segundo testemunhos da minha tia Violeta e do meu tio Germano, o meu pai Francisco Vieira nunca abordava esse assunto.
Esta foto foi no inicio dos anos 50, mas as 3 mulheres trabalhavam todo o dia na renda, cujo pequeno rendimento era um precioso auxiliar do rendimento da família, assim como de muitas famílias desta terra.
Aproveito assim esta “Mostra Internacional de Rendas de Bilros de Peniche” para prestar homenagem à minha avó Adelina Rocha Pêra, uma lutadora, que criou os filhos sozinha a fazer Renda de Bilros.


9 comentários:

Albino disse...

Uma homenagem tambem de mim Chico para a tua avo que a conheci quando visitava contigo onde tu tambem moravas,alias havia muitas senhoras amarrada aos bilros como a minha avo Leopoldina e sua irma Liliana onde passava semanas a viver como tu sabes...realmente eram dias dificeis e tal como tu podemos ver com os nossos propios olhos as dificuldades na altura...
as nossas avos e maes eram mulheres a valer portanto esta homenagem e mais que merecida.
Abraco

jorge saldanha disse...

Eu tive o prazer de as conhecer. Obrigado por mas recordares.
Um abraço.

jacinto borges disse...

História comovente a da sua avó, uma grande mulher, uma grande lutadora. Muitos de nós nos quais eu me incluo descendemos de pessoas muito humildes, que numa terra muito carenciada como a nossa nesses tempos, tiveram muita dificuldade em conseguir o alimento necessário para os seus filhos, as histórias que ouvimos contar a maior parte das vezes narradas pelos nossos pais eram dolorosas. Por isso através do seu blogue eu também me quero associar na homenagem à sua avó e a todas as avós de Peniche desses tempos, mulheres incógnitas mas grandes mulheres da história da nossa terra.
Abraço Jacinto

maria disse...

Não conhecendo as pessoas que retratam aqui, conheci outras que também sei o quanto lutaram por uns magros escudos para alimentar as famílias, sempre agarradas às almofadas de rendas. Já na altura havia alguma exploração dessa mão de obra.
A minha sincera homenagem a todas!
maria

Anónimo disse...

Espectacular lembrança e homenagem! São estas histórias que fazem a própria história da renda de bilros em Peniche. Talvez poucas pessoas saibam, actualmente, que aquilo que é tão belo como as rendas que hoje estão nas montras nacionais e internacionais de moda, nas nossas camas, móveis, roupas, etc, tenham muitas vezes resultado de autênticos esforços de sobrevivência para chegar até aos nossos dias. É isto que deixa a marca e que o meu Pai, e muito bem, resolveu partilhar. Um beijo para ele e para a minha avó Gertrudes que é e será sempre uma referência de vida para mim com o seu espírito positivo ímpar, para além de me lembrar de muitas tardes passadas ao "bater dos bilros" e de quem, embora sem saber ler nem escrever, domina os números e a sua percepção como poucos. É realmente um privilégio fazer assim parte da história das rendas.

Anónimo disse...

Vida dura, essa, do tempo do fascismo.
Nunca é demais lembrar os tempos de fome e escravidão, para que a memória não se apague.

Um bjo. para ti e para a tua mãe.
Glória

Anónimo disse...

Para que conste:
Este texto foi comovida e integralmente lido durante a cerimónia de divulgação de resultados e entrega de Prémios às Rendilheiras que participaram no XVIII Concurso de Renda de Bilros e que decorreu na dia 23 de Julho de 2010.
Após a leitura , a citação do autor e local de origem do texto, a assistência sublinhou com um veemente aplauso, como que a assinar, também, o texto do Francisco Germano Vieira!

Saúde!
Um Amigo de Peniche

Albino disse...

Estou orgulhoso por ti Chico,reconhecimento pelo teu trabalho grande amigo
Abraco

FGV disse...

Tive conhecimento do facto no dia seguinte através de alguém que esteve na sessão.

Sinto-me honrado.