Penicheiro, 63 anos, residente em Peniche de Cima, casado, dois filhos, professor na Escola Secundária de Peniche desde 1984, sócio ativo da Associação Arméria – Movimento Ambientalista de Peniche, gosta muito de ler, apaixonado pelo património do Concelho de Peniche e sportinguista.
Começamos esta pequena conversa com algumas questões que me têm chamado a atenção acerca do seu percurso, os temas são muitos por isso não caberão todos aqui, mas saberemos tirar os frutos desta pequena conversa.
P. Tem-se dedicado a várias vertentes, do Ambiente, Ensino, Desporto, fotografia, só para lembrar alguns, fale-me um pouco das diversas actividades que vem exercendo ao longo do tempo.
R.Como
professor de Biologia e Geologia é natural que tenha um interesse particular pela
Natureza e pelo Ambiente, nomeadamente ao nível da sua proteção e valorização.
O facto de o nosso concelho apresentar um património natural de excelência e
desde tenra idade ter tido a possibilidade de conviver com este território na
sua plenitude, sustenta esta paixão. Sempre que posso, utilizo os nossos
afloramentos geológicos como espaço de aprendizagem privilegiado.
Não
me considero um fotógrafo, mas um pescador de imagens. Como gosto muito de
caminhar, individualmente ou em grupo, e praticar atividade física, junto o
útil ao agradável, assim, vou recolhendo as imagens mais significativas, que
vou divulgando nas redes sociais. Faço-o, quase diariamente, desde 2013.
Enquanto
pude joguei sempre futebol de salão/futsal e futebol de onze, sempre com enorme
entusiasmo, como se cada desafio fosse o último. Jamais esquecerei os torneios
no Stella Maris, Polivalente e Campo da Fonte Boa ao serviço do Grupo
Desportivo Costa Brava. No bairro de Vila Maria, os dias eram passados a jogar
à bola. Que saudades! Não sendo dotado para o atletismo, também gostei de
participar em algumas provas e fomentar o desenvolvimento desta modalidade no
Costa Brava.
As
mazelas foram aparecendo, quando não se pode correr caminha-se, o que é também uma
mais-valia em vários contextos.
P. Ultimamente tem-nos brindado com algumas entrevistas temáticas para o jornal local, A Voz do Mar, diga algo sobre este tema, o que o motivou a lançar-se nesta “vertente” e se até agora já pode fazer um balanço assim como alguns aspectos que queira referenciar positivos ou negativos.
R. Ao longo dos anos fui colaborando com “A Voz do MAR”
(VM), nomeadamente graças ao incentivo do Prof. António Alves Seara. A partir
de certa altura considerei que poderia ser útil ao jornal dando a conhecer
pessoas que de alguma forma se relacionam com Área Ambiental, Património
Natural e Ciência. Outra premissa é serem de Peniche ou façam trabalhos
envolvendo temáticas associadas à terra ou que trabalhem no concelho.
Apresentei o projeto à direção da VM em 2020 e no número de outubro saiu o primeiro artigo.
Como ainda não fui despedido, ou seja, a rubrica mantém-se, ocupando agora a página 12, adquirindo também o estatuto de
colaborador. Até ao momento, as referências que me chegaram foram sempre de
apreço, por isso estou bastante satisfeito com o resultado. Mensalmente
apresento um entrevistado com o qual aprendo bastante. A concretização do texto
dá um pouco de trabalho, mas “o cavalo que corre por gosto não se cansa”.
Saliento aqui um aspeto muito importante, a VM confia plenamente na minha
perspetiva, assim todas as entrevistas resultaram das minhas opções.
P. A fotografia cada vez ocupa mais espaço no seu tempo livre, também terá tido já algumas alegrias, assim como exposições, prémios e acima de tudo tenta conjugar a fotografia como auxiliar de ensino, gostaria que desenvolvesse este tema.
R.Sempre gostei de fotografia, aspeto que também aprecio
nos filmes. Estando um pouco desiludido com a divulgação do património
geológico de Peniche, decidi mostrá-lo nas redes sociais, juntando sempre
alguma informação. Depois sugeriram-me
que apresentasse as fotografias em determinadas sessões até que surge a oportunidade de fazer uma exposição –“Superfícies,
texturas e pavimentos na orla costeira de Peniche”. A juntar a esta já
concretizei mais duas mostras, a saber:
“Fragmentos da Geologia de Peniche – Uma perspetiva estética” e “inFLOREScências”.
Algumas destas exposições passaram por vários locais e algumas fotografias
integraram eventos específicos. Simultaneamente fui submetendo fotografias ao
Banco de Imagens da Casa das Ciências, apostando na estética e no potencial
formativa das imagens. Fui premiado três vezes no âmbito do concurso que aquela
instituição desenvolve e tenho mais de duas centenas de fotografias publicadas.
P. Os temas são muitos e diversos, mas há uma pergunta a que não posso deixar de referir. Foi agraciado como Professor do Ano 2022, pela Casa das Ciências que premeia o trabalho que tem feito junto dos alunos e levá-los a gostar da Geologia de Peniche, entre outras coisas. Diga-nos o que sentiu quando foi agraciado, para além de ter ficado contente como é evidente.
R.Como é óbvio fiquei muito satisfeito com a atribuição de
um prémio de âmbito nacional associado à minha profissão. Também muito contente
pela Escola Secundária de Peniche e por todas as pessoas que me têm ajudado. O
prémio surgiu do trabalho dentro da Casa das Ciências, da atividade de
professor e da intervenção em vários projetos. Se por um lado as fotografias
didático-pedagógicas disponíveis na plataforma da Casa das Ciências serão úteis
aos colegas, por outro lado o ter guiado dezenas de visitas para diferentes
públicos terá constituído um elemento fulcral para a obtenção do prémio. Como
há alguns dias alguém realçou, está evidente “o prazer da partilha”. Acabou por
ser uma boa notícia associada ao nosso concelho, ligada a uma escola quase
perdida no mapa.
Já tinha recebido outros prémios para mim igualmente
significativos, mas este veio salientar algo que fui procurando sempre com
muito afinco – Mostrar a excelência da nossa Geologia como ambiente ímpar de
aprendizagem. Não é por acaso que tantas escolas nos visitam e que nos manuais
de ensino aparecem tantas referências.
P. Por último, ficando muito por perguntar e dizer, mas gostaria que expressasse algo que não foi perguntado e que tenha interesse para si.
R. Em primeiro lugar quero dizer que o apoio familiar
incondicional tem sido muito importante no meu percurso. Aos colegas,
assistentes e alunos agradeço tudo o que aprendi com eles.
Quando iniciei a carreira tinha um objetivo – Ser um
professor capaz de motivar os alunos. Ao longo trajeto fui participando em
projetos de muito me orgulho, especialmente o Clube Ecológico “O Airinho”,
Programas Eco-escolas e Escola Azul, “Uma Viagem ao Mundo das Amonites”,
“Spring Has Come” e “la fO2lie”. Deu-me particular gozo ser capaz de
representar o papel de palhaço em dois destes eventos.
Salientar que os meus pais tinham uma boa imagem da
profissão de professor. Lamento dizer, mas neste momento não aconselho os
alunos a seguirem a profissão docente, é inacreditável o facto de não se
investir mais no ensino público. Tenho assistido à crescente desvalorização da
profissão, um retrocesso.
Quando tive desilusões e desencantos ultrapassei-os sem
olhar para trás, nunca desistindo ou substituindo por vias alternativas. Penso
de forma positiva, pois foram muito mais as alegrias.
Não sei como se chegou à situação de termos um património
riquíssimo em vários campos e não termos um espaço museológico para valorizar
este imenso legado. O que mais me
espanta é que em 1984 tínhamos um museu municipal, não seria o ideal, mas
representava bem a região. Não concordando com localização do centro
interpretativo em que a Geologia estaria representada… Já passaram vários anos,
mas não se vê nada feito.
Interessante ter respondido às questões propostas pelo
amigo Francisco para o seu blog. Um abraço.
4 comentários:
Hoje vim visitar o teu blogue, de vez em quando faço-o, porque me lembro que foi através dele que me iniciei nestas coisas das redes sociais e sabes já recordo com saudade o tempo em que era apenas o teu blogue que me punha em contacto com pessoas que há muito não via. Hoje nesta entrevista que fizeste ao professor Francisco Félix que eu admiro não só como professor premiado, mas também pelo seu empenho e dedicação em prol da cultura da sua terra me fez lembrar que toda esta informação me é proporcionada pelas redes sociais, onde o teu blogue teve uma parte activa para eu ter este bichinho, é que se não fossem as redes sociais neste caso o facebook eu não sabia que o professor Francisco Félix era filho da minha prima Rosa e foi através duma foto por ele publicada que o fiquei a saber e que começamos a ter contacto, saí de Peniche muito jovem embora nunca esquecesse a minha terra nem as minhas raízes, fui perdendo os
contactos com as suas gentes. Por isso hoje ao visitar o teu blogue e ter visto a entrevista que fizeste levou-me a comentar e a ter pena de ver hoje tão poucos comentários (também eu me penalizo pela falta). Vou terminar que já vai longo e dizer-te que também tu pelo trabalho que tens feito neste blogue desde há muitos anos e pelos trabalhos com que nos presenteias diariamente no face mereces um lugar de destaque especial na cultura Penichense.Bem Hajam os Francisco Felix, os Franciscos Germanos e todos aqueles que divulgam a cultura dessa terra linda que eu nunca esqueço. Jacinto Borges.
Olá amigo Jacinto Borges, pois enquanto puder este Blogue não acaba, vou fazendo alguma coisa de útil com ele, principalmente assuntos que não cabem no Facebook, um abraço e obrigado pela visita.
FGV
Olá amigo Germano.
Abraço para ti, para o Francisco Félix e também para o amigo Jacinto.
Elogiando a tua entrevista ao nosso conterrâneo Francisco Félix, desejando-lhe muito sucesso na sua carreira, para ti o desejo de saúde e continuação do bom trabalho que tens feito que é muito importante para todos os Penicheiros ausentes da sua cidade natal.
Falando do Jacinto, faço meus os seus comentários, também como ele tenho-me esquecido do Pinturas em Peniche, com certo comodismo e idade vou-me ficando pelas tuas informações no face, mas quando necessário vou lá mesmo que não faça comentários.
Abraço , e um gosto de ser teu amigo de longa data.
Luis Aniceto
Olá amigo Luís Aniceto, obrigado pelas palavras e um grande abraço deste teu amigo desde os longínquos dias da Escola.
FGV
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