25/04/2009

Comemorar Abril (III)

Há 35 anos eu estava no serviço militar, mais concretamente na Força Aérea em Montejunto na Estação de Radar.
No dia 25 tinham passado 4 dias sobre o nascimento do meu filho Marco, estava ainda em Peniche no dia 24 para o registo e outras formalidades, pelas 7 horas da manhã desse dia quando fui na camioneta para as Caldas para seguir para a Base, já estava a tropa na rua.
Esta data tem para mim por diversas razões, um significado muito especial.
Só sairia da Base dias mais tarde, entretanto em Peniche ia ser escrita parte da História do 25 de Abril, quando as portas da prisão política se abriram.
Não assisti às centenas de pessoas que aguardavam a saída dos presos, disseram-me que o povo ria e estava feliz.
Há 35 anos concretizou-se um sonho de muita gente, na qual eu humildemente me incluo, dessas pessoas lembro o meu pai Francisco Vieira, O Belmiro dos Santos Alves meu vizinho da frente ali na Travessa da Fé, o Álvaro "Pitorro", o Ti Zé do Carmo que faleceu de emoção na África do Sul quando recebeu a notícia da revolução, o David Malheiros, o Aleixo, o Carlos "Padeiro" e o Júlio "Padeiro" seu irmão, o Ti Zé Sales, o Saul Gonçalves, o Júlio Napoleão, o Silvino Viola, o José Amaro e tantos outros que já não estão entre nós.
Outros companheiros de juventude ainda cá se encontram, para esses o meu abraço especial, passámos a juventude a desejar que "aquilo" acontecesse.

Viva o 25 de Abril

7 comentários:

Anónimo disse...

Faz hoje também 35 anos que estàva em Peniche, na Escola Industrial e como todos da turma 1ra6 muitos contentes de saber que o Professor nao estàva e que nao iamos ter aula, isto foi até ao meio-dia porque quando chegàmos à sàla de aula là estàva ele à nossa espera, mas nao tivémos aula de Matemàtica mas uma explicação de todo o movimento e barulho que havia na rua neste dia do 25 Abril 1974 e foi secalhar o unico dia que todos os alunos sairam pela porta principal e vimos pela 1era vez as tropas em entrar em Peniche a irem direito à Fortaleza.

Viva o 25 Abril.

PS: Quem se alembra deste
Professor ??


Carlos Pacheco de Penixima em França

Elvira Carvalho disse...

Onde estava eu no 25 de Abril? A morar, na Av. de S. Paulo, frente há igreja Ѫ Sr.ª de Fátima, aquela mesma onde o Papa esteve o mês passado. E a trabalhar como secretária (lá chamavam assim) no Colégio dos Irmãos Maristas. Era eu a responsável pela secretaria, e por tudo o que passava por ela. No dia 25 de Abril, cheguei ao emprego e liguei o rádio e só se ouviam, músicas clássicas. Nada de notícias. Quando os alunos começaram a chegar acompanhados dos pais, (a grande maioria, eram militares) alguns contaram aos irmãos que se falava, de uma revolta na metrópole (também era assim que se designava Portugal, pelos residentes, excepção feita pelos nativos que chamavam a Portugal, o puto, por ser muito pequeno em relação a Angola).
Tentei telefonar à minha irmã que trabalhava em Lisboa, na Almirante Reis, mas não consegui. Durante todo o dia o tentei e nunca o consegui. À noite, a rádio interrompeu a música e deu a informação do que tinha acontecido, com uma informação curta e pouco esclarecida, como se temessem que a revolta ainda fosse esmagada e voltasse tudo ao mesmo. Só a meio do dia 26 se soube realmente o que tinha acontecido.
As coisas não seriam assim hoje, mas naquela altura Angola ainda não tinha televisão, e os jornais e rádio só emitiam aquilo que a PIDE deixava.
Depois foi mais de um ano de uma vida de guerra. Musseques incendiados, mortes, recolheres obrigatórios, todo o espaço ao ar livre do Colégio, foi ocupado por tendas militares, onde dormiam os residentes dos musseques incendiados e saqueados. Chegaram a estar mais de mil pessoas incluindo crianças, a maioria de raça negra, mas também alguns brancos. A tropa mandava para lá as refeições, e eu e os irmãos, fazíamos a distribuição. É que o Irmão Santini, director do Colégio, era também o mais alto representante da Cáritas em Luanda.
Daí que íamos também a alguns musseques, especialmente ao Cazenga, para levar ajuda àqueles que lá estavam.
Como vê eu não vivi, nada daquilo que vocês lembram com saudade. E quando vim já foi em Agosto de 75, pouco antes da independência de Angola que foi em Novembro.
Não concebo uma vida feliz sem Liberdade, e sei bem como era antes do 25 de Abril.
Mas Liberdade sem pão, também não faz ninguém feliz e vejo como vive grande parte do país.
Penso que os objectivos do 25 de Abril, e daqueles que o planearam e executaram ficaram só pela metade, e mesmo essa metade, vejo-a cada dia mais ameaçada, pelos falsos democratas que nos governam.
Um abraço e bom fim-de-semana

Andreia Leiria disse...

Muito obrigada, Sr. Francisco, por recordar o meu avô ( o Ti Julio e o Belmiro) neste dia tão especial para ele e para mim. Cabe-nos a nós, filhos e netos dos homens e mulheres de Abril continuar o sonho começado "naquela madrugada por que todos esperavam".

Andreia "Padeirinha"

Margarete disse...

Obrigado Chico,de recordares o meu pai e o meu tio, e todos os democratas, e como tu dizes minha querida Andreia, somos nos de continuar o sonho começado
Um abraço

Margarete Leiria

Albino disse...

Lembro-me desse dia como se fosse hoje embora me encontrasse bem longe de Portugal e foi precisamente a noticia da revolucao de 25 de Abril 1974 e como o Chico disse morreu de emocao o meu querido avo Jose do Carmo...agarrado ao radio com o rosto de imensa alegria como que tendo finalmente ouvido o que para lutou durante muitos anos assim como todos aqueles que mencionaste...as minhas irmas devem ter de certeza muito mais para dizer porque na altura viviam na mesma casa..eu ja estava casado e apenas os visitava de vez em quando...nunca mais esquecerei o seu rosto feliz...Margarete deves-te sentir orgulhosa do teu pai tambem.....
Abraco

Maria disse...

Ola a todos , hoje e friado aqui na Africa do Sul ( freedom day ) . muinto obrigado Chico por teres lembrado do meu querido avozinho o grande Jose do Carmo , por acaso no sabado passado fazia potanto 35 anos que aconteceu o 25 de Abril, eu estava a ver um programa na rtp internacional a respeito do 25 de Abril e estava a relembrar ao meu marido ( ele e Sul Africano ) e veime as lagrimas aos olhos so a pensar do meu avo . como o Albino disse nos eavamos tao longe da nossa terra e so soubemos o que se estava a passar atravez da radio que era trasmitida de Mocanbique que se chamava LM Radio em portugues o meu avo nao falava inglez e LM Radio era uma diatracao para ele e de repente as noticias comecaram a chegar e ele comecou a ficar tao imocionado que nesse mesmo dia tivemos que o levar para o hospital , deu-lhe uma trombose pssado trez dias faleceu . faleceu contente na altura hoje nao sei se ele ainda fosse vivo se continuaria a estar feliz . emfim foram uns tempos muito emocionantes para todos os Portugueses em Portugal e para nos no estrangeiro tambem .
Beijinhos a todos principalment aos meus irmaos e irma
Maria

Álvaro disse...

Eu gostava de me lembrar daquela madrugada tão desejada e esperada por muitos durante décadas, mas como a Andreia já nascemos depois da Revolução. Não vivemos a "fome, a guerra, a prisão nem a tortura", nascemos já com a liberdade que esses e tantos outros lutaram por este país fora. Não me esqueço de alguns que ainda tive o prazer de conhecer, o Belmiro, o Aleixo, o Zé Paiva, o Saúl, o António Costa e a Rosa Caneira (do Sindicato) e que ensinaram gerações do verdadeiro significado de Abril, não apenas de um dia mas pela sua prática diária.
Em especial para os pescadores, para os trabalhadores da pesca e outros trabalhadores que por 2 vezes se levantaram na nossa agora cidade (anterior vila) por 2 vezes significativas, a primeira em 1935 e a 2 em 61. Histórias ainda quase ocultas pelos tempos mas que soubemos tantas vezes na praia de Peniche de Cima ou aos Portões.
Um abraço Francisco

Continua!