04/01/2010

Morre Lentamente

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,

quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar,
morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante…

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade.

Pablo Neruda

5 comentários:

estrela disse...

Maravilhoso!!!

Este poema, para mim...é uma oração!
Feliz Ano Novo!!!
Belmira

jacinto borges disse...

Poema lindo sempre actual e vai morrendo lentamente quem não copiar algo disto ao longo da sua vida.
Soube bem abrir o seu blog e deparar com este poema depois de ter sido avô pela 2ª vez.
Obrigado Francisco pela publicação deste belo poema Jacinto.

Aniceto disse...

Bom dia Jacinto!
Parabêns por seres mais uma vez avô,e parabêns aos pais e que tudo corra bem para todos vós.
Um abraço,

Para o Germano, só posso dizer que este poema é lindo e tem o seu quê de verdade, só é pena não podermos segui-lo devido a "interferências" que vão surgindo nas nossas vidas.
Só por curiosidade, estou a escrever e está a dar a musica das baleias do Roberto Carlos.
Abraço,

Luis Filipe

Francisco G Vieira disse...

Parabéns ao Jacinto pelo nascimento do seu neto, que tudo corra bem assim como aos pais.
Muitas felicidades são os meus desejos sinceros.

Abraço

Francisco G Vieira disse...

Luís Aniceto

Tens toda a razão, este hino à vida de Pablo Neruda tem aceitação em quase todos nós, simplesmente a vida por vezes prega-nos algumas partidas, que fazem com que o tal desejo de VIDA vá encontrando cada vez mais obstáculos.
No entanto mantenhamos sempre vivo esse desejo e quem sabe, talvez a vamos vivendo em pequenas doses.

Abraço