Àquele que não escuta o mar nesta manhã
de sexta-feira e encarcerado está dentro de algo,
casa, escritório, fábrica ou mulher,
ou rua ou mina ou árido calabouço…
a esse acorro eu e sem falar nem ver
chego e abro a porta da clausura
e ao abri-la um vago burburinho ouve-se dentro,
um longo trovão desfeito encorpora-se
ao peso do planeta e da espuma,
surgem os rios rumorosos do oceano,
vibra veloz no seu rosal a estrela
e o mar palpita, fenece e continua.
Assim pelo destino conduzido
devo sem descanso ouvir e conservar
o lamento marinho na minha consciência,
devo sentir a pancada violenta da água
e recolhê-la numa taça eterna
para que onde esteja o encarcerado,
onde sofra o castigo do Outono
esteja eu presente com uma onda errante,
circule eu através das janelas
e ao ouvir-me o olhar levante
dizendo: como chegarei eu junto do oceano?
Então sem dizer nada transmitirei
os ecos rutilantes da onda,
uma derrocada de espuma e areais,
um sussurro de sal que se afasta,
o grito cinzento da ave do litoral.
E assim, a liberdade e o mar responderão
por mim ao sombrio coração.
Pablo Neruda
3 comentários:
Ola Chico,a foto espectacular,e um lindo poema deste grande poéta Chileno, Pablo Neruda.
Um abraço.
Margarete Leiria
Bonito poema, sem sombra de duvida, da a sensacao que foi escrito para Peniche. Um abraco
Haverá coincidências? Eu digo que sim!!
Depois do almoço, e como já uns tempos não via o mar, resolvi pegar no material de pesca e fui até santa cruz sabendo que o tempo não convidava, mas lá fui.
Quando cheguei fiquei decepcionado pelo vento e tambêm pelo estado do mar que estava "bruto" e corria pra norte. Dei umas voltas, apanhei um pouco de ar, não mexi no material de pesca, comi o que tinha levado para o lanche e toca a andar para casa.
Como é hábito fui abrir o Pinturas em Peniche e deparei com este lindo poema que vem a propósito.
Foi uma tarde que serviu para carregar as "baterias".
Abraço
Luis Aniceto
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