O arquitecto Álvaro Siza Vieira disse ontem em Peniche ter sido afastado pela Enatur do projecto de transformação da Fortaleza de Peniche em pousada por discordar da duplicação do número de quartos pretendida pelos promotores.
“Fui afastado do trabalho”, afirmou Siza Vieira, durante uma conferência sobre “a memória” promovida pela Câmara de Peniche na Fortaleza.
O arquitecto explicou que, quando da entrada do Grupo Pestana na administração na rede de Pousadas de Portugal com a privatização da Enatur, em 2003, foi afastado do trabalho por discordar da intenção de criar uma pousada com mais do dobro dos 30 quartos que previa o projecto de arquitectura que elaborou para o espaço. E que, disse, “não está ainda pago”.
“A duplicação do número de quartos implicava a criação de mais dois pisos, projectei o hotel para ter a mesma altura da fortaleza, por isso aumentar o número de pisos seria uma monstruosidade”, disse.
Contactados pela Lusa, nem a Enatur nem o Grupo Pestana prestaram esclarecimentos sobre o ponto de situação do projecto.
O arquitecto alertou para as “pressões” que vão surgir quanto ao “aumento da volumetria” e “de privatização do espaço”, caso o projecto da pousada se mantiver.
Álvaro Siza Vieira disse ainda que um hotel “não é solução” para reabilitar o património da Fortaleza de Peniche, tendo em conta as “dúvidas” que tem sobre a compatibilização do projecto com a necessidade de preservar a memória histórica do espaço, que serviu como antiga prisão política. “Não é uma coisa que se faça de ânimo leve”, sublinhou.
O presidente da câmara de Peniche, António José Correia (CDU), revelou que a autarquia deu um prazo “até Junho” ao Grupo Pestana para apresentar o projecto de viabilidade, que passa por criar 70 quartos na futura pousada para tornar o investimento rentável.
“Se até Agosto não for apresentado o projecto de viabilidade, tomaremos uma decisão”, acrescentou o autarca, que pretende clarificar “em definitivo” o futuro a dar à Fortaleza.
António José Correia recordou que a autarquia concordou em 1999 com a futura pousada por envolver o arquitecto Siza Vieira, cujo projecto compatibilizava a preservação do património histórico, mantendo intacta a memória e os espaços associados às fugas políticas. “Se o projecto não corresponder a este conjunto de condições não aceitaremos o desafio”, disse.
A fortaleza, em estado de parcial degradação, foi construída no século XVII sobre rochedos em frente ao mar para defesa da costa, vindo ao longo do tempo a perder interesse do ponto de vista militar. Até que, na década de 1930, foi transformada em prisão política.
A reabilitação patrimonial da Fortaleza de Peniche tem sido uma preocupação da autarquia e está englobada no Plano de Acção do Oeste assinado entre o Governo e os municípios do Oeste após a deslocalização do aeroporto da Ota, já depois do protocolo assinado com a Enatur para a transformação da Fortaleza em pousada.
Texto do Jornal "Público" de 24-05-2010
“Fui afastado do trabalho”, afirmou Siza Vieira, durante uma conferência sobre “a memória” promovida pela Câmara de Peniche na Fortaleza.
O arquitecto explicou que, quando da entrada do Grupo Pestana na administração na rede de Pousadas de Portugal com a privatização da Enatur, em 2003, foi afastado do trabalho por discordar da intenção de criar uma pousada com mais do dobro dos 30 quartos que previa o projecto de arquitectura que elaborou para o espaço. E que, disse, “não está ainda pago”.
“A duplicação do número de quartos implicava a criação de mais dois pisos, projectei o hotel para ter a mesma altura da fortaleza, por isso aumentar o número de pisos seria uma monstruosidade”, disse.
Contactados pela Lusa, nem a Enatur nem o Grupo Pestana prestaram esclarecimentos sobre o ponto de situação do projecto.
O arquitecto alertou para as “pressões” que vão surgir quanto ao “aumento da volumetria” e “de privatização do espaço”, caso o projecto da pousada se mantiver.
Álvaro Siza Vieira disse ainda que um hotel “não é solução” para reabilitar o património da Fortaleza de Peniche, tendo em conta as “dúvidas” que tem sobre a compatibilização do projecto com a necessidade de preservar a memória histórica do espaço, que serviu como antiga prisão política. “Não é uma coisa que se faça de ânimo leve”, sublinhou.
O presidente da câmara de Peniche, António José Correia (CDU), revelou que a autarquia deu um prazo “até Junho” ao Grupo Pestana para apresentar o projecto de viabilidade, que passa por criar 70 quartos na futura pousada para tornar o investimento rentável.
“Se até Agosto não for apresentado o projecto de viabilidade, tomaremos uma decisão”, acrescentou o autarca, que pretende clarificar “em definitivo” o futuro a dar à Fortaleza.
António José Correia recordou que a autarquia concordou em 1999 com a futura pousada por envolver o arquitecto Siza Vieira, cujo projecto compatibilizava a preservação do património histórico, mantendo intacta a memória e os espaços associados às fugas políticas. “Se o projecto não corresponder a este conjunto de condições não aceitaremos o desafio”, disse.
A fortaleza, em estado de parcial degradação, foi construída no século XVII sobre rochedos em frente ao mar para defesa da costa, vindo ao longo do tempo a perder interesse do ponto de vista militar. Até que, na década de 1930, foi transformada em prisão política.
A reabilitação patrimonial da Fortaleza de Peniche tem sido uma preocupação da autarquia e está englobada no Plano de Acção do Oeste assinado entre o Governo e os municípios do Oeste após a deslocalização do aeroporto da Ota, já depois do protocolo assinado com a Enatur para a transformação da Fortaleza em pousada.
Texto do Jornal "Público" de 24-05-2010
5 comentários:
Espero muito honestamente que seja feito algo que dignifique e faça perdurar o monumento, acima de tudo.
Construir um hotel, com vários pisos dentro da fortaleza, é uma imoralidade, e uma tentativa de apagar da memória colectiva o passado da mesma.
Acredito que isso tenha irritado e feito Sisa Vieira abandonar o projecto.
Um abraço
Claro está que o grupo Pestana não vai apresentar projecto algum. E permitam-me esta pergunta: grupo Pestana porquê? Não haverá outros interessados? Vamos continuar a fomentar situações de monopólio?
A Câmara tem que assumir a liderança do processo e não ficar refém de grupos e grupinhos que apenas olham para os cifrões. O projecto hoteleiro que vier a ser desenvolvido na Fortaleza deve resultar de concurso público, sustentado num caderno de encargos da responsabilidade da Câmara. A meu ver, o espaço Ribeira-Fortaleza-Campo da Torre deverá constar do mesmo processo urbanístico global a que se poderia dar o nome de Centro Histórico de Peniche ou outro que se venha a julgar melhor.
E as chamadas "forças vivas" de Peniche, onde andam?
Onde andam os empresários e os empreendedores da terra?
Será que se fossem proprietários dos terrenos da Fortaleza, já teriam vindo a terreiro exigir que as coisas se mexessem?
Não deixa de ser curioso que algum tecido empresarial de Peniche apenas se manifeste para apoiar projectos que involvam requalificações de terrenos, lucro rápido para alguns e exploração para os de sempre.
Atenção que a Fortaleza não é da Câmara, portanto, só o estado pode decidir o que se faz naquele espaço.Penso que deverá ouvir a Câmara mas não é obrigado.
Um abraço.
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