07/07/2010

Ler Saramago

Muito se tem dito acerca da escrita de Saramago.

Aqui há uns anos comprei um livro de Saramago, não conseguia passar das primeiras 15 ou 20 páginas, a minha filha Andreia, que andava na secundária e lia um livro naquela altura em 4 ou 5 dias, também desistiu e não conseguia ler, riamo-nos com aquilo e o livro ficou uns anos na estante, até que me veio parar às mãos “Todos os Nomes”, um livro do mesmo escritor. Depois de alguma relutância dada a experiencia anterior, lá comecei a ler, curioso, depois das primeiras dificuldades já experimentadas anteriormente e à maneira que caminhava, maior se tornou o interesse e foi com satisfação que consegui ler aquele livro. Depois comprei o Memorial do Convento, que para mim é o melhor livro do escritor e li-o também com todo o interesse, a partir daí tenho vindo a ler os seus livros, uns melhores outros piores como acontece com todos os escritores, já tenho uma dezena de livros do autor e vou continuar a ler a sua obra.

Um escritor e a sua obra não são muito diferentes dum pintor ou de um músico, quando vejo um quadro de Picasso como por exemplo um retrato de amigo que foi leiloado há dias por 40 milhões de euros ou quando vejo “Guernica”, ou ainda um quadro de Monet, o que eu aprecio é a sua arte, não me interessa saber se o pintor era católico ou protestante, crente ou ateu, liberal ou conservador, da mesma maneira quando ouço uma musica de Wagner, não estou preocupado em saber qual o pensamento do músico em relação à política da altura, só me interessa a obra e essa é definitiva e magistral.

Da mesma maneira que um escritor quando escreve um livro, expõe essa obra à apreciação dos leitores e há quem goste e quem não ache o mais pequeno interesse, o que é absolutamente normal, mas temos que aprender a dissociar a obra do homem, ao valorizar a obra sem saber quem era o autor, penso que estamos a contribuir para o nosso enriquecimento cultural, no fundo era essa a proposta que o artista nos fez, ele não queria saber o que pensávamos acerca dele. Da mesma forma, imagino o que no século XIX a Igreja pensaria das obras de Eça de Queiroz, no entanto passados todos estes anos o que vale é a obra do autor e essa é apreciada por todos, como um dos maiores vultos da escrita portuguesa.

4 comentários:

Maria disse...

Não deixes de ler 'Levantado do chão'.
Para mim um dos melhores, mas sem dúvida o que mais me marcou. Talvez por ser o primeiro que li dele. Há mais de 30 anos...

FGV disse...

"Levantado do chão" já li, assim como Pequenas Memórias, Ensaio Sobre a Cegueira, Ensaio Sobre a Lucidez, As Intermitências da Morte,Evangelho Segundo Jesus Cristo, Caim,Jangada de Pedra, Viagem do Elefante.
Como disse uns melhores que outros, Levantado do Chão é de facto um grande livro.

Anónimo disse...

Caros "Amigos" quer gostem ou não da pessoa, um Nobel, tem que ser a nível mundial um escritor de relevo e ele não o conseguiu por ser português...
Só por isso, o presidente da República deveria ter tido "mais atitude" e ser digno de ter um escritor destes no País.Enfim são os políticos que temos !...
Um abraço do Álvaro.

Farelhão disse...

Naturalmente que nisto da arte está sempre presente uma forte dose de subjectivismo: uns gostam e outros não, uns gostam mais e outros gostam menos, etc. Aqui fica a minha apreciação sobre os prosadores lusitanos mais recentes: Aquilino Ribeiro e José Saramago são especiais para mim. Não são "fáceis", dirão alguns. Mas será a vida uma coisa fácil?
Quanto à deplorável e lamentável atitude da pessoa que os portugueses escolheram para seu presidente em relação ao José Saramago, direi que cada povo tem o cavaco que merece.