15/02/2011

A solidão e a morte

Desde que há dias foi descoberto o cadáver de uma senhora na sua casa, morta há mais de oito anos, tem-se escrito muito, as televisões têm dado relevo à solidão das pessoas idosas, nas cidades mas também nos campos.

Chama-se a atenção para alguma insensibilidade de entidades do Estado no tratamento deste assunto, refugiando-se por vezes quando confrontados com o acontecido, em meros formalismos burocráticos.

Porém, todos estão a coberto por uma acção que vai nesse sentido, o tratamento que está a ser dado aos nossos idosos, (parece quase um desejo mórbido que desapareçam), o encerramento de postos de saúde, já não só no interior mas também nos centros urbanos, dos hospitais, o cada vez mais difícil transporte em ambulância para consultas ou tratamentos, o encerramento das linhas de caminho de ferro, muitas dessas linhas a única ligação com a civilização, em suma a desertificação forçada do interior deixando à sua sorte centenas talvez milhares de idosos que teimosamente vão “aguentando” as fronteiras (não sendo as administrativas, pelo menos as ambientais) do nosso país no interior, fazendo com que fiquem sós. Os familiares, mais novos, tiveram de partir, fecharam as escolas e não há empregos, tudo encaminhando para a solidão e a espera do dia. Mas esse isolamento não é só no interior (que caminha para a desertificação), é também nas grandes urbes como Lisboa ou Porto, em que devido às contas que alguém num gabinete, de um qualquer ministério, decidirão que se deve encerrar o centro de saúde no bairro Xis porque não é rentável mantê-lo e então é ver idosos, quase sem se puderem mexer com parcas reformas e sem dinheiro para transportes, queixarem-se do que vai ser das suas vidas para irem para o centro de saúde que lhes calhou em sorte.

Portugal é o 6º país mais envelhecido do MUNDO, não é por acaso, se até os abonos de família são retirados e com a dificuldade tremenda que é criar e educar um filho, não espanta que haja cada vez menos nascimentos e a população cada vez mais velha.

A forma contabilística como se encara a assistência à velhice, a ausência de Lares de Terceira Idade em quantidade suficiente, o preço demasiado elevado que se exige em algumas situações, faz com que grande parte dos nossos idosos vá ficando sós em casa, a sua casa, o último reduto.

Resta a solidariedade dos familiares (nunca como agora foi tão importante o apoio de filhos a pais ou sogros), dos vizinhos, de instituições, de pessoas do voluntariado para que exista um mínimo de dignidade nos dias que correm para os nossos idosos.

Este não é entretanto um problema criado por este ou aquele governo, é um problema de sociedade, de nós todos, da nossa forma de pensar e de estar, enfim da forma como evoluímos como sociedade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Admiras-te? De há uns tempos para cá, os nossos idosos são tratados como o " Klinex ", usa-se e depois deita-se fora. Não há regra sem excepção e ainda bem, mas na maioria dos casos as pessoas esquecem-se que também um dia serão idosos.
Um abraço
Jorge Saldanha