04/12/2012

As propinas do Secundário e o Subsídio de Natal

Quando andava na Escola Industrial e Comercial de Peniche, quando passei para o 3º ano, 1º de Formação de Electromecânico, por volta de 1964, soube através do Mestre Mamede que então já tinha ido para as Caldas da Rainha, que eu e outros colegas tínhamos direito a uma Bolsa da Gulbenkian em virtude das notas do Ciclo Preparatório, o que nos permitiria contrariar o peso das propinas que então se pagava em forma de Selos Fiscais, lembro-me que lá fomos à Escola eu e o meu pai saber na Secretaria o que tinha de se tratar, viemos de mãos a abanar, não tinha direito, pois o meu pai era pescador e como não tinha ordenado certo, nem descontava para a Caixa de Previdência, não poderiam apurar o direito à bolsa de estudo (?).

Vem-me à memória este episódio prepotente e estúpido, naquela altura em que um pescador colocar um filho a estudar no Ensino Técnico tinha de ser apoiado e não o contrário, quando se fala novamente no regresso das propinas ao ensino secundário, será mais uma machadada no sistema educativo que idealizámos para o nosso país, pois se isso acontecesse o secundário deixaria de ser obrigatório.

A par destas notícias nada felizes para utilizar um vocabulário suave, chega-nos também essa medida, corolário da “chico-espertice” nacional representada ao mais alto nível, que é o pagamento do Subsidio de Natal ou 13º Mês em duodécimos, (“para suportarmos melhor o aumento de impostos”, SIC) por agora só metade, mas ficamos com a sensação de que a medida se estenderá aos dois subsídios e mais, pode nunca mais voltar ao que era. Lembro-me então de episódios pessoais, quando tinha os três filhos a estudar, que pedia na empresa o adiantamento do Subsidio de Natal em Setembro (medida excepcional que era compreendida pela Direcção) para fazer face às despesas extraordinárias que tinha em Outubro com a entrada na escola e universidade, esta situação durou alguns anos, mas era a única maneira que eu tinha de resolver aquele problema, há com certeza decisores políticos que nunca perceberam nem perceberão o que é fazer sacrifícios, como faz falta receber um ordenado a mais nestas alturas para se conseguir fazer face a tudo.

2 comentários:

Álvaro Marques disse...

Plenamente de acordo contigo pois estes políticos que nos (des)governam sabem lá o que era fazer sacrifícios,sem condições
ter de levantar cedo e ir de bicicleta à chuva e ao vento e fazer vários km de bicicleta...
Amigo "Xico" esta democracia (??) que nos arranjaram está a dar as ultimas e começamos a ver todos os dias as ALDRABICES que estes "rapazecos" dizem sem quaisquer responsabilidade e consequência.
Veja-se o ROUBO feito aos f.públicos, aos reformados (42 anos descontei eu)e depois veem-me com equidade (tretas e + tretas).
Que pena que eu tenho de já ir nos 62 anitos, bem os mandava dar uma volta a estes sr.s donos do país que nunca produziram algo para o bem estar do povo.
A educação está na ultima é só compadrios como a tvi demonstrou ontem na reportagem sobre alguns colégios.
Enfim é a nossa "sina" de séculos.
Um abraço

Anónimo disse...

Para além de corroborar inteiramente o teu raciocínio, ainda gostava de complementar com dois pontos relativamente às supostas propinas no secundário. Primeiro, porque não acredito que esta ideia, que está neste momento a tentar ser desmentida pelo governo (pelo carácter tão ridículo que tem), seja nova. A ideia, verdade seja dita, tem muito mais de ultraliberal do que de qualquer doutrina social-democrata e tem, amiúde, sido deixada em entrevistas aqui e ali, escusando dizer que nada terá que ver com ideologia e políticas de esquerda (com maiores preocupações sociais), assim como nas consequências económicas, sociais e culturais que tais medidas infligem a quem não tem meios, e que numa sociedade de oportunidades iguais não teria de ter.

O segundo ponto tem que ver com a total subversão que tais medidas introduzem, naquilo que sem custo posso reconhecer foram, nos últimos anos, políticas que tentaram minorar os índices de analfabetismo ou aumentar a escolaridade obrigatória, e por conseguinte gratuita. Não me quero deter na avaliação da especialidade, se as medidas foram efectivas no seu pleno, mas apenas estabelecer paralelismos, numa altura que toda a gente defende que não existem diferenças nas ideologias mais centrais do nosso espectro político. Felizmente existem diferenças de base, concordemos ou não com politiquices, substâncias e interesses obscuros que todos tenham.

E uma palavra final para a falta de sensibilidade dos executivos do nosso governo, na sua maioria.

"Só quem sabe o que custa fazer ou dar, pode ter o descaramento de explicar como, assim como a moral de pedir para tirar."

m@rco