19/01/2013

Afinal era tudo mentira?

 

Quando éramos miúdos ensinaram-nos que havia um Deus e uma Igreja, que teríamos de respeitar, e então crescemos ensinados a temer e a não pecar. Depois, quando entrámos na década de sessenta, começa a haver uma intromissão na nossa maneira de pensar e agir, a radicalização das ideias, os ideais libertários, o amor livre, a luta contra a guerra colonial e a do Vietname. Somos jovens, todos com ideias avançadas. Queremos mudar o mundo e vamos consegui-lo. Olá se vamos! Nada nos pára.

Começamos a defender uma sociedade democrática, com eleições livres. Depois, sim, tudo será diferente. Uma cabeça, um voto. Estamos nesta bebedeira de ideias, de certezas absolutas, quando aparece o 25 de Abril, aqui, em Portugal, neste pequeno país onde tudo parecia parado. Uma revolução, o povo sai à rua, gritando por justiça. Tudo treme, os mais ricos do país fogem apavorados para o Brasil, os dogmas que fazem escola aplicam-se em força, porventura com demasiada força, a sociedade portuguesa cinzenta e triste renasce e torna-se colorida

Entramos na CEE com a certeza de uma vida boa, muito dinheiro e empregos para todos. Não será preciso tratar da terra, nem pescar no mar. Há que abater a frota, outros que pesquem por nós. A Europa Social está aí, ao virar da esquina, é só o melhor sistema do mundo e é para nós. Depois… bem, depois veio o melhor. Íamos ter moeda única na Europa e era o melhor que nos podia acontecer, uma moeda forte assim tipo Alemanha, sem problemas de câmbio quando se fosse a outro pais da Europa. Passou entretanto o tempo.

Hoje, neste tempo tão conturbado que vivemos tudo se alterou. A Democracia, afinal, não é assim tão forte e tão justa; a UE não é mais aquele objectivo mítico de estado social, o sistema perfeito, as guerras continuam a existir embora com outros intervenientes e blocos/interesses, ou até de outras formas.

O Deus, aquele que aprendemos a respeitar, foi substituído por uma coisa danada. São grandes organizações mundiais que mandam em nós todos, como autênticas igrejas fiéis ao seu deus, mas com diversas formas de agir. Existe, por exemplo o BCE, o Banco Mundial, o FMI ou o Goldman Sachs, este então apresenta-se como o “Vaticano” dessa nova religião. As eleições, afinal, não decidem nada, a última palavra é e será sempre dos “mercados”. Os projectos políticos de um país estão dependentes da vontade dumas organizações, essas sim que mandam no mundo. Nos países mandam os Bancos, no mundo manda o dinheiro, o deus actual. Se um Banco está aflito, não há problema, aumentam-se os impostos do povo e salva-se o Banco.

Simples e eficaz. O povo está mais velho e carente, há mais desemprego, gasta-se mais com a saúde. Não há problema, corta-se no Estado Social, depois que se avenham. Chegamos ao ponto de ligar mais importância ao que vai dizer a Directora do FMI do que ao Presidente da República. Não devia ser assim, mas é. Essas novas igrejas obedientes a esse deus chamado dinheiro, que pairam por Wall Street, City, etc., alteram a seu bel-prazer a vida dos povos sem querer saber das suas consequências, das suas desgraças, se há leite na mesa das crianças desse país. O mais caricato é ver alguns governos ainda mais empenhados que essas organizações na destruição da civilização actual.

Perante este cenário que se nos afigura, estamos sempre na iminência de mais um qualquer relatório aparecer por aí brevemente, emanado de uma das tais igrejas, com mais medidas que ninguém entende, mas que certamente significarão mais um garrote neste já depauperado povo.

7 comentários:

Farelhão disse...

Globalmente, a reflexão que faço sobre os momentos difíceis que vivemos coincide com a tua. Abordaste temas que davam para longas conversas. Um deles remete para a questão das obediências, sejam sob a forma das religiões, partidos, clubes da bola, associações secretas e outras que constrangem o livre pensamento. O Homem livre é o que pensa pela sua cabeça. E isso não é nada fácil.

Elvira Carvalho disse...

O dinheiro é o Deus actual da Humanidade.
Daí ela ter chegado a este desrespeito por si própria.
Um abraço e bom fim de semana

Luis Simões disse...

* * * * *

Álvaro Marques disse...

Amigo "Xico" gostei imenso do teu texto.
Mas, para mim tudo isto"não é uma mentira" é somente uma dura REALIDADE do mundo corrupto de hoje, dos poderosos e como dizes e bem do $.A diferença entre o nosso cantinho e os outros países deve-se à corrupção do PODER instalada nos corredores políticos.
Veja-se a "justiça" num país com casos como o do "BPN" quantos dos políticos no ativo já deveriam estar à SOMBRA e o que aconteceu .
NADA ...
Diz o ditado "quem não se sente, não é filho de boa gente" e por isso eu digo que estou farto de ser (des)governado por incompetentes, parasitas e corruptos.
Um abraço

Anónimo disse...

Subscrevo integralmente o retrato que fizeste, bem como o resumo histórico.

Talvez não sejam precisos muitos anos para que se perceba efectivamente o crime que se está a cometer em Portugal.

Ir-se a reboque, por incompetência e cobardia, de relatórios de uns teóricos de gravata, está a colocar em causa a soberania de estado, a sobrevivência de milhares de famílias e a total desagregação de estado social que ainda aguentava isto com relativa saúde e educação.

Sabemos que há muita coisa a fazer para reduzir nas despesas, mas não pode ser nos cuidados básicos, substituindo com "estados sociais privados".

Portugal só precisa de olhar os EUA para perceber a resistência que há para mudar os sistemas de saúde privados e que excluem os pobres de aceder à saúde.

Ramiro Viegas disse...

Não retiro um ponto,uma vírgula ao retrato que fizeste contudo,como é afirmado noutro comentário o conteúdo da análise efetuada, dava pano para mangas, escrevíamos imenso sobre o tema, permitia escrever muitos artigos de opinião que, os jornnais nacionais e até os locias, VEJAM A POUCA VERGONHA que vai neste país, NÂO PUBLICAM em pleno ato de CENSURA mas, amigo Francisco a culpa morre solteira, como também´é afirmado, PORQUE NÓS TODOS o permitimos, oh!! santa IGNORÂNCIA que Salazar construiu mas que continua a perpetuar-se num sistema que lhe chamaram democracia. Até quando nós vamos esperar,contribuindo para a manutenção de um sistema de ditadura dos partidos? Para quando a consciencialiZação do que é ser CIDADÃO? Ser CIDADÃO Nâo é só VOTAR CEGAMENTE é também ABSTER-SE de VOTAR como a única arma que esta ditadura nos permite usar ATÉ QUE, QUE SURJA A VERDADEIRA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, saída de foruns locais nos quais se debatem os problemas locais e regionais e, de onde deviam sair os deputados através de eleições locais dos seus representantes.
Envio-te para que possas entender melhor este meu pensamento diversos artigos que enviei.entre muitos, para a Voz do Mar e que não foram publicados."Que é o BCE"-"A formiga Miguel Macedo"-"Já leram o memorando da Troika"-"Adivinhe qual destes dois está reformado"-"A incrível Associação de ex-deputados"PORQUÊ? Porque os deputados da esquerda à direita se servem do "POVO", porque a comunicação social está ao serviço do poder económico que controla o poder político cujo objetivo principal com a parceria FMI-BCE(TROIKA)NOS VÃO COLOCAR A TODOS OS QUE PRODUZEM DE GATAS enquanto, como tu o dizes e muito bem, OS BANCOS QUE CRIARAM A SITUAÇÃO SÃO RECOMPENSADOS POR TODO O SEU PROJETO de destruição de um povo.
Porque recusei, participar na criação de "Ignorantes" abandonei as minhas funções docentes com a certeza que,apesar das minhas constantes propostas de alteração de conteúdos programáticos, Currículos,fui perseguido porque infelizmente em Portugal não se pode ter opinião, vive-se ainda do seguidismo Cego-Surdo e Mudo e, quanto a mim ESTA A MUDANÇA QUE É URGENTE FAZER-SE COMO? Primeiro pela Abstenção maciça em todas as eleições para POSTERIORMENTE poder-se criar as condições para que,os portugueses que não tem partido e não se revêm nas linhas orientadoras e programáticas dos partidos,PODEREM INTERVIR POLITICAMENTE E SOCIALMENTE.

José Carlos Romão disse...

Andámos muitos anos a viver através de financiamento externo cujos juros a nossa economia não podia acompanhar. Agora não podemos sair a meio do jogo.