24/04/2014

Os 40 anos do 25 de Abril – valeu a pena?

 

clip_image002Passaram 40 anos desde o 25 de Abril de 1974, aquela “madrugada que eu esperava”, como escreveu Sophia de Mello Breyner, na altura tinha 23 anos e a cabeça cheia de esperanças, de mudanças urgentes e necessárias, agora é que era, tudo ia mudar, de facto alguma coisa mudou, como um vendaval que passou por aqui, tudo foi posto em causa, abriram-se as portas para uma democracia formal mas avançada, pelo caracter social que as suas leis iam ditando. Há coisas que nunca vou esquecer, como a Reforma Agrária, que acabou tão drasticamente. Houve abusos? Claro, mas digam-me onde numa revolução não houve abusos e atropelos e injustiças, estou-me a lembrar do Serviço nacional de Saúde, essa fantástica conquista que tanto nos orgulhou e cuja continuação nos deixa apreensivos, estou-me a lembrar da Justiça ao alcance do povo, mas que está neste momento tão desacreditada, pela relação do dinheiro com a mesma, lembro o voto secreto e universal, conquista suprema da democracia, mas que infelizmente tem vindo a perder apoio popular, pois o poder de decisão deixou de depender somente do seu voto mas de fatores alheios à própria democracia, lembro a descolonização, conturbada, mas é fácil falar agora, só quem não viveu aqueles tempos pode ignorar o que foi a pressão exercida sobre o frágil poder então sediado em Lisboa nesta jovem democracia, pelo menos os jovens já não estavam condenados a ir para uma guerra que não lhes dizia nada, para não falar da PIDE essa agremiação policial e torcionária, que defendia o regime ditatorial fascista de então, quando estávamos num café a conversar, tínhamos de ter atenção a quem nos rodeava, para não termos surpresas desagradáveis. Teve coisas menos boas? Teve, desde logo lembro-me de uma com que nunca concordei logo de início, que foi a extinção dos cursos profissionais das Escolas Industrias e Comerciais, aqui em Peniche havia um ensino de excelência nesse campo que se perdeu, foi pena. Depois a institucionalização da democracia deu lugar à substituição devagar mas consistentemente dos valores de Abril por esta situação vigente a que nos arrastaram e da qual não se vê fim à vista, com a degradação persistente da vida dos reformados e pensionistas, dos funcionários públicos, dos empregados em geral, das pequenas e médias Oficinas e Comércio, enfim das classes que vivem do seu trabalho. Entregou-se todas as empresas rentáveis vindas das nacionalizações a capitais internacionais, ficando o nosso pais cada vez mais pobre.

Perguntar-se-á, valeu ainda assim a pena o 25 de Abril de 1974? Respondo SIM, valeu a pena, foi uma experiencia irrepetível, este pais não é o mesmo que o país cinzento que existia em 1973.

Não sou de chavões nem de manifestações, mas apetece-me dizer com toda a força, viva o 25 de Abril de 74.

1 comentário:

Elvira Carvalho disse...

Só pelo fim da guerra colonial, onde os jovens eram obrigados a combater uma guerra que não apoiavam nem entendiam, e onde deixavam a vida, ou então voltavam estropiados, física e mentalmente de tal modos que os psiquiatras ainda estão cheios de homens com stress de guerra 40 anos passados.
Só por isso valeu a pena.
No Sexta também tenho um artigo sobre o 25 de Abril.
Um abraço e bom fim de semana