Sou barco de vela e remo
sou vagabundo do mar.
Não tenho escala marcada
nem hora para chegar:
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré...
Muitas vezes acontece
largar o rumo tomado
da praia para onde ia...
Foi o vento que virou?
foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade
de vagabundo do mar?
Sei lá.
Fosse o que fosse
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
É, por isso, meus amigos,
que a tempestade da Vida
me apanhou no alto mar.
E agora,
queira ou não queira,
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo acabou-se.
Estas coisas acontecem
aos vagabundos do mar.
Manuel da Fonseca
Poeta, romancista, contista e cronista
(15/10/1911 – 11/03/1993)
1 comentário:
Se fosse hoje, o que escreveria o Manuel da Fonseca?
Como comporia ele esta deriva a que nos obrigam e que nos impede de chegar a terra?
Que chamaria ele a este lugar de gente errante e sem esperança, em que a grande maioria são "vagabundos do mar"?
É por essas e por outras que eu, Farelhão, prefiro estar fixo e bem no meio do mar. O vento não me leva nem a maré me afunda. O que me vai matando são as saudades das pessoas que estimei e dos sonhos que abracei.
Pois é, Manuel, se ainda por cá andasses, terias que substituir muitas das tuas belas imagens verbais por expressões bem vernáculas e cruas. Em vez de:
"Foi o vento que virou?
foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade
de vagabundo do mar?"
talvez escrevesses:
"Quem foram os cabrões que manipularam, enganaram e roubaram este povo e o deixaram na miséria?"
Claro que os críticos literários acusar-te-iam de fuga ao neo-realismo. Mas tu mandavas os gajos para um sítio que eu cá sei.
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